TRT-MA debate sobre o suicídio na atualidade em adesão à campanha setembro amarelo
"Nove a cada dez casos de suicídio são possíveis de prevenir", alertou a psicóloga e palestrante Cristiane Luna. Na manhã dessa quarta-feira (11), a Escola Judicial do Trabalho Regional da 16ª (EJUD16) promoveu a palestra "Prevenção do Suicídio: Precisamos Falar Sobre Isso", no Auditório Professora Maria da Graça Jorge Martins, da Escola Judicial. A iniciativa está alinhada à campanha Setembro Amarelo, idealizada pela ONG Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza, durante todo este mês, ações de conscientização sobre a prevenção do suicídio.
Na ocasião, o secretário executivo da Ejud16, Allan Carlos de Souza Marques, destacou que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, a cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), são registrados mundialmente cerca de 1 milhão de suicídios todos os anos. No Brasil, nesse mesmo período, os casos chegam a 12 mil.
No início da palestra, a psicóloga Cristiane Luna ressaltou que não é preciso ser um profissional da área da saúde para salvar uma vida. "Você só precisa ser humano, você só precisa ter empatia", afirma.
Para explicar sobre o que é o suicídio, a profissional recorreu ao conceito definido pelo sociólogo Émile Durkheim. “Todo o caso de morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado”, cita. Em seguida, ela falou que o suicídio é o ato extremo de um processo.
Para tornar a afirmação mais compreensível, Cristiane Luna elucidou sobre esse processo. Utilizando o formato de uma pirâmide, a psicóloga falou que na base da figura há as reações, os pensamentos de morte; depois dessa etapa, há o planejamento, em que a pessoa já está decidida em cumprir o ato e vai escolher o método de como executá-lo; após o planejamento, a pessoa vai para a tentativa desse ato. "Por isso, falamos que o suicídio pode ser prevenido, porque antes de chegar ao ato extremo, há essas etapas e é nesse momento que podemos intervir", alerta.
A psicóloga também trouxe alguns dados. Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a cada caso consumado, há em média 20 tentativas de suicídio. Ainda segundo a pesquisa, 17% dos brasileiros já pensaram em algum momento tirar a vida e 4,8% chegaram a elaborar um plano para isso. "Pensamentos como esse podem ocorrer com qualquer um, não é preciso ter um transtorno mental para ele surgir", afirma. Porém, ela ressaltou que essas ideações podem se tornar mais fortes e frequentes em pessoas que sofrem por algum tipo de transtorno. "Segunda a Organização Mundial da Saúde, 90% de casos de suicídio estão atrelados a casos de depressão, alcoolismo, transtorno bipolar, esquizofrenia e transtorno borderline", destaca.
Por que o suicídio é um tabu?
A palestrante relembrou que o tabu em torno do tema suicídio tem raízes históricas na literatura. A obra do escritor Goethe intitulada "Os Sofrimentos do Jovem Werther", do século XVIII, narra a história de um rapaz que tira a própria vida devido a um amor impossível. O romance foi um grande sucesso na época, mas desencadeou um aumento na taxa de suicídio entre os jovens, o que os cientistas chamaram de "Efeito Werther". Na tentativa de diminuir os casos, os cientistas da época acreditaram que não falar sobre suicídio seria uma solução.
Para a psicóloga Cristiane Luna, é necessário falar-se sobre, mas deve-se tomar cuidado com a forma de se abordar o assunto para não despertar gatilhos. Ela explicou, por exemplo, que a mídia é orientada a não informar como a vítima cometeu o ato de tirar a própria vida. Além disso, a palestrante aconselhou a não compartilhar conteúdos como cartas de despedida, vídeos incentivando a cometer o ato ou de pessoas que o cometeram e registraram nas redes sociais, por meio de lives.
Como ajudar alguém que precisa
O suicídio é a segunda causa de óbito entre pessoas de 15 e 29 anos, sendo eles, em sua maioria, homens. "As mulheres tentam mais, porém são os homens que mais se suicidam", revela a palestrante. Segundo ela, as mulheres recorrem a métodos mais amenos, como a ingestão de remédios, que têm mais chances de serem revertidos caso haja o atendimento médico.
Cristiane Luna apresentou alguns sinais de alerta para identificar uma pessoa com ideações suicidas. Alteração significativa nos hábitos, queda do desempenho no trabalho, obsessão com a morte, mudança de humor frequente, uso e abuso de álcool e de outras drogas são alguns dos exemplos. Ela apresentou ainda formas de como ajudar alguém em risco. Escutar com atenção e respeito ao sofrimento do outro, não emitir julgamento, não comparar o sofrimento da pessoa com de outros, mostrar-se disponível para ouvir, entre outras formas.
Redação: Lucas Ribeiro (estagiário de Jornalismo)
Jornalista Responsável: Suely Cavalcante.