Violência é analisada em palestra na Escola Judicial

sexta-feira, 21 de Fevereiro de 2014 - 16:46
Redator (a)
Rosemary Araujo
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Rosemary Araujo
Psicanalista Eduardo Riaviz e juiz Bruno Motejunas.

“Psicanálise, Violência e Contemporaneidade” foi o tema abordado na palestra promovida na manhã de hoje (21) pela Escola Judicial (EJud) do Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região (TRT-MA), para marcar o início das atividades do Núcleo de Pesquisa “Direito e Psicanálise”.

O coordenador-geral da Escola Judicial, juiz Bruno de Carvalho Motejunas, fez a abertura do evento, dando as boas-vindas aos participantes e esclarecendo que o Núcleo está sempre aberto à expansão de suas atividades. “A Justiça é o reflexo dos conflitos sociais. Pensar esses temas nos ajuda a ver tais conflitos de uma forma mais clara”, considerou o magistrado.

A palestra foi proferida por Eduardo Riaviz, psicanalista, psicólogo, Doutor em Literatura e Membro Aderente da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP), e teve como objetivo discutir problemas da violência na perspectiva da psicanálise e dos novos desafios que a hipermodernidade proporciona aos indivíduos. “Parece que os termos do tema não têm relação nenhuma entre si, mas podemos dizer que hoje o ponto comum entre a psicanálise e a contemporaneidade é justamente a violência. A psicanálise é um pacto de palavras; a violência se manifesta quando a palavra se cala. O que está no caroço de toda demanda analítica é a violência, uma violência contra o próprio sujeito. Por outro lado,  na contemporaneidade, há uma violência contra o outro, porém, esta violência muda conforme o momento histórico”, iniciou o palestrante.  

Numa abordagem lacaniana, Eduardo Riaviz considerou que, quando o sujeito não consegue assimilar e administrar seus conflitos pessoais, age com violência contra si mesmo, em primeiro lugar; se essa condição extrapola, historicamente, veem-se os casos de violência contra o outro. Essa violência pode ou não se manifestar em sociedade, a depender dos ideais e/ou circunstâncias com que as pessoas se envolvem. No mundo moderno, a violência era totalizante, a exemplo das guerras mundiais ocorridas no século passado. Já no mundo pós-moderno ou hipermoderno, para alguns, a violência apresenta-se de modo fragmentada. “A violência nos agita contra o outro ou contra nós mesmos. Isto é desequilíbrio, é uma desregulação”, explicou.

Também foram abordados conceitos de sujeito e ideal dados pela psicanálise para adentrar nos aspectos contemporâneos. Para tanto, o palestrante explicou o processo de sofrimento, em suas fases de inibição (impossibilidade de fazer algo que queremos), de sintomas (repetição dos atos) e de angústia (quando a vida fica sem sentido), assim como o processo de amor narcísico, em que vemos no outro o reflexo do que amamos em nós. Narciso, ao buscar sua própria qualidade (a beleza), joga-se no rio e morre. Este mito faz a relação amor-morte, gerando uma violência contra o próprio sujeito. Se o outro não corresponde ao que nele buscamos, desperta-se em nós a tensão agressiva, que pode vir a crescer e atingir o ódio. “Amor e ódio são as duas faces da mesma moeda. O imaginário humano é narcísico e especular, não há reconhecimento do outro diferente”, explicou Riaviz, citando Caetano Veloso para concluir: “É que Narciso acha feio o que não é espelho”.  

A reflexão de que “a saída da psicanálise não é para todos, mas uma saída para cada um, com uma singularidade, de maneira que possibilite a criação de novos valores e novas soluções para seus conflitos” finalizou a apresentação de Eduardo Riaviz.

Núcleo de Pesquisa “Direito e Psicanálise” – Sob a coordenação da servidora Anícia de Jesus Ewerton, o Núcleo realiza reuniões quinzenais com o intuito de pensar e discutir temas voltados ao fortalecimento do papel da Escola Judicial de proporcionar a magistrados e servidores uma formação profissional de conteúdo técnico-jurídico, ético e humanista, orientada para a defesa do Estado Social de Direito. As reuniões e os estudos estão abertos à participação de todos os interessados. Mais informações podem ser obtidas na EJud, pelo ramal 9390.

 

 

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